sábado, 9 de junho de 2012

Pastelaria

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo:
fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra


Mário Cesariny
___________________
Nota de rodapé:
Os poetas surrealistas de Lisboa costumavam reunir para tertúlias, cafezadas e torradas meladas na Pastelaria Mexicana, localizada na Praça de Londres. Para evocações e mais informações aconselho uma visita ao local. Tem esplanada e azulejos coloridos e Garibaldis.

3 comentários:

Cafeína disse...

Convém dar os créditos ao Exmo. Mário Cesariny...
;)

(e que bem apanhado é!)

acido acetilsalicilico disse...

Ah, claro!
Deve ter sumido quando escrevi a nota de rodapé e nem reparei.
Ainda bem que viste!

Cafeína disse...

:)

Imaginei que fosse algo do género. E não ir meter o dedo em post alheio...